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O nome batismo tem um significado óbvio: todos ali sonham com um futuro melhor. Não deixam a esperança (pelo menos referente ao sentimento) morrer. Um bem coletivo. Se formos mais a fundo, porém, é possível ver quem são os principais (neste caso, as principais) agentes por trás da ocupação. Todas as mulheres que formam aquele lugar. Ali, o papel de quem nasceu com o sexo feminino é claro. A mulher cuida dos filhos, recebe os visitantes, trabalha em dupla, tripla jornada. Tem que correr para matricular as crianças na escola, levar no posto de saúde, dar banho no banheiro compartilhado. A mulher ali fala com Deus. Se consegue um emprego, pode ser a provedora do aluguel que vai tirar a família da ocupação; se trabalha demais e deixa os filhos sozinhos, é a única responsável pelas ações tomadas por eles. É dela a responsabilidade. É dela a culpa.
 

Visitei Esperança entre março de 2016 e fevereiro de 2017 junto ao Núcleo de Assessoria Jurídica Popular da Universidade Federal de Pernambuco (Najup), um grupo de extensão da Faculdade de Direito do Recife, que dá assistência jurídica aos moradores da ocupação, além de trabalhar uma série de atividades com temáticas variadas com eles. Dia das Mulheres, aniversário de moradoras, assembleias sobre auxílio moradia... Eles me permitiram fazer parte de todos aqueles momentos. Os perfis a seguir tratam apenas das mulheres de Esperança. Os homens são meros coadjuvantes desta história. Toda a produção é formada de entrevistas formais e de conversas descontraídas durante este intervalo. Antes de cada um deles há um trecho de “Quarto de Despejo”, diário de Carolina de Jesus. Todas as fotos e vídeos são de autoria de Rafael Felipe Machado.
 

A cidade inteira tinha olhos voltados ao Galo da Madrugada, blocos de Olinda e shows no Recife Antigo quando Esperança nasceu, em 2013. Antes de ser batizada, não era feto em barriga de mulher. Era conjunto de tijolos, telhas, portão de metal, espetos de ferro. Tomada pelo mato. Sinônimo de abandono. Ninguém olhava para ela, mesmo que fosse valiosa: o metro quadrado no bairro do Espinheiro, zona Norte do Recife, hoje custando  R$ 5,5 mil, já girava em torno dos R$ 5 mil. A casa, com primeiro andar, um oitão até os fundos, recuo significativo entre a porta de entrada e o portão da rua, é posse da Prefeitura do Recife e não cumpria a função social de, ironicamente, acolher famílias em situação de risco. Esperança é apenas concreto: não fala, não anda, não dará o primeiro sorriso nem vai à escola. Ainda assim, teve o nascimento meticulosamente planejado por pessoas pobres e sem casa própria. As únicas que viam ali uma potencial moradia. A data, no começo do Carnaval, era o momento no qual parte do policiamento ostensivo utilizado para expulsar novas ocupações na cidade estava focado nas festas. Segurança para uns, oportunidade para outros. A hora certa. 

A ocupação existe em uma casa de propriedade da Prefeitura do Recife desde 2013.

Esperança

Onde fica a ocupação?
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