top of page

9 de junho de 1958

 

“Quando nasceu Vera eu fiquei sosinha aqui na favela. Não apareceu uma mulher para lavar minhas roupas, olhar meus filhos. Os meus filhos dormiram sujos. Eu fiquei na cama pensando nos filhos, com medo deles ri brincar nas margens do rio. Depois do parto a mulher não tem forças para erguer um braço. Depois do parto eu fiquei numa posição incômoda. Até quando Deus deu-me forças para ajeitar-me."

Você mora aqui há quanto tempo?

 

Rebeca: - Faz pouco tempo

 

Elizabeth: - Uns dois anos e pouco

O que você mais gosta aqui?

 

Rebeca: - Eu gosto de “apertubar” (risos). Aperturbo minha mãe aqui, apertubo na escola também.

 

Elizabeth: - O culto. Se não fosse esse culto era só Jesus na causa mesmo. Depois que essa abençoada por Deus (Cássia) trouxe esse culto para cá foi uma maravilha.

Quando crescer, Rebeca quer ser médica. Escolheu até mesmo a área de atuação. “Vou ser daquelas que criam bebês”, conta. Já tem experiência. Com apenas oito anos, ajuda a mãe, Elizabeth, a cuidar da pequena Nívea, uma das crianças geradas e nascidas dentro de Esperança, ocupação em um casarão abandonado pela prefeitura na zona Norte do Recife. “Ela foi feita aqui e nascida aqui”, brinca Beth. Com chupeta pendurada no pescoço e a pequena Nívea, nascida há pouco mais de dois meses, nos braços, a mulher é o retrato do cansaço. Precisa cuidar dos três filhos e da casa. Acumula responsabilidades, mas conta com a ajuda da filha para deixar tudo em ordem.

 

Elizabeth morava no bairro da Joana Bezerra, zona Sul do Recife, antes de chegar em Esperança. Ela saiu de casa com Rebeca e o filho mais novo, Gabriel, após se separar do ex marido. Em busca de uma nova casa, eram três. Em pouco tempo se apaixonou por Nilton. Passaram a dividir o mesmo barraco. Hoje são cinco. Uma família com três mulheres diferentes. Uma adulta, outra, criança e, por fim, a mais nova moradora de toda a ocupação. Para Rebeca e Beth, em entrevistas separadas, foram feitas algumas perguntas semelhantes. As respostas, porém, mostram perspectivas diferentes, olhares diversos sobre o mundo. Para Nívea, que ainda não fala, resta o desejo da mãe: “Só espero que ela não cresça aqui. Eu quero sair daqui logo”.

O que você faz no dia a dia? / Como é sua rotina?

 

Rebeca: - Vou para a escola (a menina está no terceiro ano do ensino fundamental) e brinco. Gosto de brincar. Brinco mais de pega se esconder.

 

Elizabeth: - É corrida. Eu corro tanto. Não durmo direito de noite, corro muito. Quem me ajuda sempre é Rebeca. Os irmãos aqui também ajudam quando podem. Mas é assim mesmo, né. Vida de mãe é assim.

O que você mais quer no futuro? / Onde você queria estar daqui há seis meses?

 

Rebeca: - Eu quero que ela não more com Nilton.

 

Elizabeth: - Eu espero não viver aqui nessa invasão e sim nos nossos apartamentos. Deus vai tocar no coração de alguém e eles vão começar a fazer (os apartamentos). Queria muito que a gente saísse daqui e fosse direto pro nosso apartamento porque eu acho meio difícil toda vez que fomos lá passar o cartão ter alguma coisa nele (ela se refere à outra opção além do apartamento, que é o auxílio moradia no valor de R$ 200).

Você quer deixar um recado para alguém?

 

Rebeca: - Eu quero mandar um beijo para meus irmãos Stéfany, Stela, Micael e Micaelly, Evellyn, Lívia e Gabriel (os primeiros, por parte de pai).

 

Elizabeth: - Não.

Beth, Rebeca, Nívea: três gerações, um quarto

bottom of page